Mesmo sem ser tóxica, lama de barragem em Mariana
deve prejudicar ecossistema por anos
Especialistas
afirmam que danos ambientas de acidente em Minas Gerais incluem solo infértil e
impactos nos rios e na fauna local de cidade.
Calcula-se que quase 23 mil piscinas olímpicas de lama foram despejadas com rompimento de barragem (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
O equivalente a quase 25 mil piscinas olímpicas de lama
foi despejado nas redondezas próximas à barragem que se rompeu na cidade de
Mariana, em Minas Gerais.
A mineradora Semarco (responsável pelo
local) garantiu que não há nada tóxico nos 62 milhões de metros cúbicos de
rejeitos de minério de ferro liberados durante o acidente.
Mas especialistas ouvidos pela BBC Brasil
afirmaram que, apesar de o material não apresentar riscos à saúde humana, ele
trará danos ambientais que podem se estender por anos.
“Comparado ao mercúrio, por exemplo, esse
rejeito não é tóxico, já que é formado basicamente por sílica. Ninguém vai desenvolver
câncer, nada disso. O risco não é para ao ser humano, mas para o meio
ambiente", disse o professor de geologia da Universidade Estadual de
Londrina (UEL) Cleuber Moraes Brito, que é consultor na área de meio ambiente e
mineração.
"Essa lama avermelhada deve causar
danos em todo o ecossistema da região, impactando por anos seus rios, fauna,
solo e até os moradores, no sentido de que o trabalho deles, como a
agricultura, pode se tornar impraticável."
Solo alterado
Os danos ao meio ambiente no entorno da barragem podem ser, a grosso modo, químicos ou de ordem física.
Os danos ao meio ambiente no entorno da barragem podem ser, a grosso modo, químicos ou de ordem física.
Resíduos de mineração vão alterar pH do solo (Foto: AFP PHOTO / Douglas MAGNO)
O primeiro diz respeito à desestruturação
química do solo, não só pelo ferro, mas também por outros metais secundários
descartados durante o processo de mineração.
Segundo Cleuber, esse solo recebe uma
incorporação química anormal, já que o resíduo tem excesso de ferro, que pode
alterar o pH da terra.
Já o impacto físico dos rompimentos dizem
respeito à quantidade de lama - e não à composição.
"O problema não é o material em si,
mas o fato de a lama ter coberto a região, soterrando a vegetação", diz
Mauricio Ehrlich, professor de geotecnia da COPPE, da UFRJ.
"Esse resíduo é pobre em material
orgânico, ou seja, não favorece o crescimento de vegetação. Assim, o que acontece
é que essa lama vai começar a secar lentamente, criando uma capa ressecada por
cima do solo, dificultando a penetração de água. E, por baixo, esse solo segue
mole."
Maurício afirma ainda que, além do solo infértil,
outro impacto ambiental está relacionado aos rios da região. Com o vazamento,
os sedimentos vão sendo arrastados e se depositando nos trechos onde a corrente
é mais fraca.
Lama também poderá ter efeitos consideráveis nos rios da região (Foto: AFP PHOTO / Douglas MAGNO)
Isso prejudica a calha dos rios, que podem
ser assoreados, ficarem mais rasos ou até terem seus cursos desviados.
Outro risco é o de que muitas nascentes
sejam soterradas.
Esse impacto nos recursos hídricos também
afeta sua fauna, especialmente peixes e microrganismos que compõem a cadeia
alimentar nos rios.
"Mudança no perfil do solo, impacto
nos recursos hídricos, na fauna. Quanto tempo a natureza vai demorar para
assimilar tudo isso?", questiona o geólogo da UEL.
Segundo ele, apesar de ainda ser cedo
demais para se ter essa resposta, é possível dizer que um programa para
resgatar a área degradada em Mariana dure cerca de 5 a 10 anos.
Os especialistas salientam que é preciso fazer um levantamento do impacto, sendo que uma das primeiras medidas reais será retirar a lama o quanto antes, especialmente por meio de escavação.
Fonte: G1 Minas Gerais
Link: http://glo.bo/1WHpkp2
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